Consumidores recebem indenizações por
ficar com nome sujo sem dever
Cliente
negativado chegou a receber R$ 27 mil
Ter o nome negativado é um transtorno ao consumidor que não tem
condições de pagar suas dívidas. Mas, para quem ficou sujo sem estar
inadimplente, a dor de cabeça é ainda maior. Esse é o caso de muitos capixabas
que tiveram injustamente o nome inserido no cadastro de devedores e tiveram que
recorrer à Justiça para serem indenizados - os valores chegam a R$ 27 mil.
Foi isso o que aconteceu com
um cliente de um banco de Vitória. Ele recebeu indenização de R$ 27.120 por
danos morais por ter o nome negativado indevidamente pelo suposto não pagamento
de parcelas de um financiamento. Na Justiça, ele provou que pagou devidamente
as parcelas.
A mesma situação aconteceu
com um professor de 45 anos, morador da Grande Vitória. Servidor público, ele
contratou um empréstimo consignado em 2014 e, todo mês, tinha uma parcela
descontada em seu contracheque.
Na última parcela, após a
quitação, porém, viu seu nome ser negativado – por um erro do banco. “Não sei o
que aconteceu, mas no sistema deles não debitaram a última parcela. Eu não
suspendi o pagamento em nenhum momento, tanto que comprovei na Justiça.
Descobri que estava negativado quando fui fazer uma compra e o crédito foi
recusado”, conta ele.
Antes de entrar com o
processo, o professor chegou a ir ao banco, mas a instituição não aceitou
retirar seu nome do cadastro de devedores.
“Meu nome só foi retirado do
SPC após a sentença, quase um ano depois. Foi um transtorno, principalmente
porque não estava devendo”, conta ele, que recebeu indenização de cerca de R$
10 mil.
Segundo o advogado Leonardo
Martins Gabrieli, o consumidor só pode ser negativado quando assina um contrato
ou faz uma compra e não honra. “Muita gente perde todo o poder de compra por um
erro”.
O juiz Paulo Abiguenem Abib,
do 4º Juizado Especial Cível de Vitória, explica que muitas negativações
indevidas estão ligadas a fraudes, mas também há casos de erros das
instituições. “Hoje, a negativação é usada pelas empresas como uma forma de
coerção para pagamento. Temos arbitrado indenização em casos de negativação
indevida entre R$ 5 mil e R$ 15 mil”, conta.
Muitas empresas não verificam
se o cliente está de fato devendo e acabam na Justiça, explica o juiz João
Patrício Barroso Neto, que atuou por 15 anos em juizado especial cível. Segundo
ele, na Grande Vitória são cerca de 70 casos desses por mês.
“A maioria não consegue
resolver o problema com a empresa pois não há boa vontade do outro lado de
analisar a questão. Então, ela tem que procurar a Justiça, pois é horrível
ficar negativado e não ter nenhuma contribuição para aquilo”.
“Corri o risco de perder o emprego”
Uma bancária de 33 anos, que
não quis se identificar, se viu em uma situação complicada após ter tido o nome
negativado de forma indevida por uma construtora. Na Justiça, foi indenizada em
R$ 10 mil.
Ela conta que comprou um
apartamento em 2010 de uma construtora de Vitória. No contrato firmado entre as
duas partes, no momento da compra do imóvel ficou acordado no documento que não
haveria a cobrança de parcelas intermediárias, e que o valor delas seria diluído
durante todo o financiamento.
Para a surpresa da bancária,
um ano depois, uma funcionária da empresa ligou para ela cobrando uma parcela
intermediária de R$ 4 mil. Ela explicou a situação, disse que não era o
acordado no contrato e a funcionária pediu desculpas, registrou um protocolo e
desligou a ligação. Dias depois, viu seu nome negativado e o risco de perder o
emprego por isso.
Como
descobriu que estava com o nome sujo?
Descobri que estava
negativada porque chegou uma carta do Serasa no meu endereço falando que estava
negativada. Não acreditava naquilo. Foi desesperador porque podia perder o
emprego.
O que
pensou em fazer?
A primeira coisa que eu
pensei foi qual o caminho para tirar meu nome dali. Se não fosse por falta de
organização da construtora, isso não teria acontecido. Na época, tinha uma
prerrogativa nas leis do trabalho de que o bancário com nome negativado poderia
ser demitido por justa causa. E eu queria manter o meu emprego, sou concursada.
Quando
decidiu procurar a Justiça?
Quando procurei a Justiça, eu
não queria indenização, só queria que o meu nome fosse retirado do cadastro.
Logo depois que entramos com ação tiraram o meu nome do Serasa. A indenização
foi paga por total estupidez da empresa. Se ela tivesse algum tipo de controle,
isso não teria acontecido. Mas a empresa ainda recorreu depois da primeira
condenação.
No
condomínio onde comprou o apartamento, isso só aconteceu com você?
Não. Tiveram vários casos no
meu condomínio, negativaram várias pessoas por causa de erro. Lembro de várias
outras pessoas que pagaram o valor por medo de ter o nome negativado. Mas elas
tinham é que procurar o Judiciário. Mesmo que não tenha acesso a advogado, que
vá atrás da Defensoria Pública ou de faculdades com núcleo jurídico. Tem que correr
atrás.
Alguns casos na Justiça
Banco:
financiamento pago foi contestado
Um banco foi condenado ao
pagamento de indenização de R$ 27.120 por danos morais a um cliente que teve o
nome negativado indevidamente pelo suposto não pagamento de parcelas de um financiamento.
Na Justiça, o homem provou que pagou devidamente as parcelas, ficando
comprovado que a negativação do nome do cliente foi ilegal.
Telefonia:
ficou devendo sem ter contratado a empresa
Uma mulher teve seu nome
negativado sem jamais ter contratado os serviços de uma empresa de telefonia
móvel, que teve que indenizá-la em R$ 3 mil. A mulher descobriu que estava com
o nome sujo ao tentar contratar os serviços de outra operadora. A empresa
informou que pode ter ocorrido fraude.
Ótica:
compra com documentos perdidos
Uma ótica da Serra foi
condenada a pagar R$ 5 mil a uma mulher que teve o nome negativado de maneira
indevida. Ao tentar fazer uma compra, ela descobriu que seu nome estava
negativado desde março de 2009, devido a uma suposta compra, no valor de R$
650, na ótica. Ela alegou que não fez a compra, mas que perdeu em 2004 uma
série de documentos pessoais, que podem ter sido usados na compra. A ótica
também não comprovou ter comunicado a mulher sobre a negativação.
Loja:
empresária ficou impedida de comprar produtos para seu salão
A proprietária de um salão de
beleza teve seu nome negativado indevidamente por uma loja de departamento de
Vitória e foi indenizada em R$ 5 mil por danos morais, já que ela não pôde
comprar os produtos para seu salão, além de ter sua conta bancária bloqueada. A
empresária quitou as prestações vencidas na própria loja em maio de 2014, mas,
em agosto, foi surpreendida com o nome sujo ao tentar emitir talão de cheque.
TV a
cabo: cobrança de taxa cancelamento
Uma assinante de um plano de
TV e telefonia, moradora de Guarapari, foi indenizada em R$ 8 mil por danos
morais após ter seu nome negativado indevidamente. A mulher pagava R$ 360
mensais pelo pacote e decidiu cancelar os serviços, mas recebeu uma fatura de
R$ 849,54, onde era cobrada
taxa de rescisão contratual. Ela contestou e, após acordo, o valor ficou em R$
369,27. O boleto foi quitado pela cliente no prazo. Mas um mês depois, ela foi
surpreendida com nova cobrança de R$ 487,51, motivo pelo qual seu nome foi negativado,
considerada ilegal pela Justiça.
Financeira:
nem morava no país
Uma cliente de uma financeira
do Espírito Santo foi indenizada em R$ 15 mil por danos morais por ter o nome
negativado de forma indevida. Ao tentar realizar um empréstimo, foi informada de
que seu nome estava no cadastro de devedores. Ao procurar o órgão, descobriu
que se tratava de um contrato de financiamento que ela nunca tinha feito. No
período da contratação dos serviços, entre 2006 e 2011, a mulher morava em
Portugal.
Faculdade:
cobrança mesmo com a matrícula trancada
Uma faculdade da Serra terá
que pagar R$ 3 mil à aluna da instituição por ter continuado cobrando
mensalidade após a estudante solicitar trancamento da matrícula. O trancamento
foi solicitado em julho de 2010, mas em dezembro de 2011 a aluna recebeu um
boleto para a reabertura de sua matrícula, o que ela não queria. Ela não pagou
o documento, mas começou a receber novas cobranças, além de ter seu nome
negativado.
O que
fazer
Descobrir
de onde veio a negativação
Se uma pessoa é negativada,
mas não tem dívida que justifica tal ato, o primeiro passo é buscar o serviço
de proteção ao crédito para saber de onde veio a negativação.
Procurar
a empresa
A pessoa que acredita estar
negativada indevidamente deve procurar a empresa para tentar resolver o
problema, informando a situação e pedindo a exclusão do seu nome do serviço de
proteção ao crédito.
Buscar
ajuda
Se a empresa não resolver o
problema administrativamente, a dica é procurar o Procon ou um advogado para
avaliar se vale a pena ir para a Justiça.
Procurar
um juizado especial
A orientação é buscar a Justiça através dos juizados especiais
cíveis, que julgam ações de no máximo 40 salários mínimos, com o pedido para
retirar o nome do cadastro negativo e de pagamento de danos morais. Não é
necessário ter advogado.
Fonte: http://www.gazetaonline.com.br/noticias/economia/2017/02/consumidores-recebem-indenizacoes-por-ficar-com-nome-sujo-sem-dever-1014026357.html
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